Eram 20:30 de uma quinta-feira quando cheguei à plataforma do metro de Arroios, sentido Campo Grande. Descia as escadas, ainda não tinha acesso visual à plataforma do lado oposto àquela para onde caminhava, mas percebi que os gritos que ouvia eram de uma mulher para uma criança. Quando desci o último degrau das escadas procurei de imediato o cenário que contextualizasse a voz. Era, de facto, uma mulher e duas crianças, entre os 4 e os 8 anos, sentadas, agitadas, no banco.
A mais velha, queria entregar-se ao sono, já de biberon na boca, procurando deitar a sua cabeça, cansada, como o corpo, nas pernas da mãe. Mas a mãe não deixava. «Não, não vais dormir, não podes dormir».
E eu pensava...
Na outra perna, o mais novo, balouçava ao som de uma música mal cantada, pela mãe, mas inundada de desejo de contrariar o sentido caótico da vida e a perturbadora turbulência das emoções.
(Ela, a mulher, sabia que a vida podia não ter sido assim. )
E eu pensava...
No canto. No canto que violentamente corrigia o sentido ilicito dos espamos da sua alma.
(Eu sinto que não posso ir para onde me leva a dôr)
Os meninos não riam. Não cediam à tormenta da vida. Mas iam ficando serenos, sempre mais serenos, de cada vez que a mãe cantava, libertava, a soma dos insucessos, das dôres e das amarguras.
Sem comentários:
Enviar um comentário