quarta-feira, 8 de outubro de 2008

30 anos depois...voltei à terra onde nasci...



Maputo - Moçambique...
De 1973 a 1974 vivi nesta casa em Maputo, na Costa do Sol. Os meus pais tinham acabado de construir esta casa. Usufruiram apenas dois anos de um sonho que levou uma vida a contruir. Esta casa foi pensada ao pormenor pela minha mãe que a desenhou minuciosamente. Lembro-me bem do primeiro dia em que habitámos este território de desejo. A praia do outro lado da rua... as estradas ainda de terra...um mundo edificado pela classe média dos moçambicanos, filhos de homens e mulheres já nascidos em África. Toda a minha familia nasceu em África. A minha avó conheceu Lisboa aos 62 anos.
Nunca quis voltar a África...Mas a vontade de fazer um livro de foto jornalismo devolveu-me à terra. Afinal, 30 anos depois, lembrava-me de tudo. De tudo. No aeroporto esperava-me o Raul, criado da familia durante 40 anos. «Paula Lemos» dizia a tabuleta que as suas mãos velhas empunhavam delicadamente. «Menina tive medo que não me conhecesse...» explicou-me.
Mas como era possível não conhecer o Raul?














Saí de Maputo aos 14 anos para estudar em Portugal. Cheguei a Lisboa a 2 de Janeiro de 1974. O céu estava cinzento e o frio cortava-me a respiração. Vim sózinha para um colégio interna em Leiria. Aos fins de semana conhecia Lisboa de electrico e de autocarro. Gostava de me sentar no primeiro andar dos autocarros verdes. Era ali que sentia o conforto da solidão.
Lisboa era uma cidade cinzenta, aborrecida, deserta. Os portugueses eram antipáticos, provincianos e andavam sempre cheios de medo.
Havia muito poucos carros nas ruas de Lisboa. Só muito poucos tinham carta de condução. Eramos um povo com uma grande taxa de analfabetismo, estávamos entregues a uma elite dirigente pretensiosa e viviamos numa sociedade dominada por um tecido social primário e pouco sofisticado. Respirava-se um ar carregado de uma atmosfera pobre.
É urgente que alguém escreva sobre Portugal nos anos 70. Se houvesse literatura consistente saberiamos melhor julgar onde estamos e o que fomos capazes de construir.




















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